A Aranha Desvairada

Não sou de me esquecer de um amigo. Pudera eu esquecer tão logo daquele que me inspirou a escrever tal conto atarantado.

Prólogo
Era mais um pacato fim de tarde na Terra mas que teria um desfecho jamais imaginado pela Dona Aranha, que não subira pela parede porque preferira a rota da casca grossa do caquizeiro.
D. Aranha estava pesada e cansada e teria de fazer muita força em suas oito longas patas para transportar as centenas de filhotes que acabaram de nascer, os quais nomeou, um a um, de Aranha. O ninho fora destruído depois de alguns erros de cálculos de engenharia cometido por um verme que por ali escavara e que desaparecera na terra no segundo seguinte, com medo de ser devorado sem qualquer requinte.

O Menino que Mordeu a Lua

Desculpe-me, meu amor, se eu mordi a Lua. Saiba que eu estou guardando a outra metade para ti em uma caixinha estrelada para que aquela não perca o próprio brilho que rouba do Sol.

A saga do Infinito - O Tédio, negro e vazio


O Acaso repousara em um Tédio negro e vazio, quando, enérgico, ele reivindicou as suas Ideias que o Tempo lhe fizesse companhia. O Tempo, tímido, lhe indagou que apenas ele, o Tédio continuaria imperecível, pois não havia por onde o Tempo passar. Foi quando o Acaso pegou uma velha Ideia e concebeu um aparato que o nomeou Infinito, para que se pudesse ver o Tempo correr por ele. O Acaso se dera por satisfeito, afinal, ver o Tempo correr era ainda mais emocionante a cada volta que completava no Infinito. 

As botinas de jardineira



Certa feita, uma velha e corpulenta lembrança que calçava botinas de jardineira velhas tomou em suas mãos a minha ensanguentada, e mesmo que ela mal pudesse me ver no presente, me disse que não bastaria cobrir meus ferimentos com as ataduras que eu insistia enrolar no corpo.
- Lave as tuas feridas, por mais que a chuva seja fria neste inverno da vida, e não chores pela tua desfiguração, que a vida é uma constante descamação da pele morta que cresce de dentro de ti. Tais cicatrizes moldarão a tua sapiência meu filho.
E aí ela dissipou na mesma velocidade que um devaneio se desvai mas reavivou a lembrança daquelas botinas velhas junto a soleira da porta.

Dormir (latim dormio, -ire) v. intr.

Esquecer que a saudade ainda é o sentimento que mais impregna a tua roupa; reportar-te a um mundo que apenas teu saudosismo ainda conserva; crer que tu vives o teu maior objetivo ainda que te sintas verde; desligar as incomodações mundanas que denominas obstáculos para os tornar superáveis; repousar as mil faces que laceiam durante o dia; fingir que a tua vida acabou e que começa de novo só com o raiar do dia; sonhar que a vida vire sonho e que o sonho vire vida para que tu possas despertar para um sonho e dizer que tudo não passou de um pesadelo.